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Data de publicação do verbete: 20/09/2016

José Laurentino

Poeta, cordelista e escritor. Declamava poesias matutas, cascateadas de humor caboclo. Um dos maiores expoentes da cultura nordestina, e deixou um legado importante para a literatura paraibana.
Data de publicação: setembro 20, 2016

Naturalidade: Puxinanã – PB

Atividades artístico – culturais: Poeta, cordelista e escritor.

Nascimento: 11 de abril 1943 / Falecimento: 15 de setembro 2016

Livros publicados: Coletânea Poética de Zé Laurentino; Sertão, humor e Poesia/5 edições (1990); Poemas, prosas e glosas (1988); Meus Versos Feitos na Roça; Carta de Matuto; Na Cadeira do Dentista; Poesia do Sertão; Dois Poetas Dois Cantares (Parceria Edvaldo Perico); A Grande História de Amor de Edmundo e Maria (Cordel); Poemas, Prosas e Glosas [1988]. (Maria do Socorro Cardoso Xavier). E Balada de um poeta cego.

O artista:

José Laurentino, ou  Zé Laurentino nasceu no Sítio Antas em Puxinanã. Ele começou a fazer seus primeiros versos aos 12 anos de idade. Sua mãe gostava muito de ler cordéis, e cantava as histórias contidas na literatura de Cordel. Como estudante, foi representante de classe, e demonstrou uma certa liderança. Ele foi presidente do Grêmio Estudantil do Ginásio Comercial Plínio Lemos.

Zé Laurentino recebeu influências do poeta Zé Prachedes, (Cerro Corá/ Rio Grande do Norte) e Zé da Luz, poeta paraibano nascido na cidade de Itabaiana, no Vale do Rio Paraíba. Segundo ele, foi com estes mestres que aprendeu alguma coisa no mundo da poesia popular.

O artista foi agricultor, plantador de batatinha até o ano de 1975, e conseguia conciliar a vida na agricultura e poesia. Nos dias de folga aproveitava e ia para a cidade de Campina Grande se apresentar nos programas de rádio, mais precisamente no Programa Retalhos do Sertão e Manhã Sertaneja.

No ano de 1972, Laurentino entrou na política, e se candidatou a vereador, e foi eleito sendo o segundo mais votado. Nos palanques recitava os versos, impressionando o público com um dos seus primeiros poemas, “Retorno à casa Paterna”.

A primeira vez que José Laurentino apresentou-se em um palco foi no primeiro Congresso Nacional de Violeiros, evento que aconteceu no Teatro Severino Cabral de Campina Grande, no ano de 1974, ele diz “ Foi ali que eu apareci mesmo, e fui me tornar notado”.

José Laurentino foi desenvolvendo sua criação poética e não parou mais, ele tinha uma inteligência por demais privilegiada, e colocava a serviço do seu povo, fazendo rir e tirando lições dos acontecimentos, e cotidiano caipira. Nas suas apresentações conseguia prender a atenção do público, ao declamar suas poesias matutas, cascateadas de humor caboclo.

O escritor exerceu a função de presidente da Casa do Poeta Repentista de Campina Grande (Casa do Cantador) por mais de uma vez. Foi Membro da Academia de Letras de Campina Grande. Fez várias parcerias ao longo de sua carreira. Com Tião Lima gravou dois CDs e com o poeta Edvaldo Perico escreveu “Dois poetas, dois Cantares”.  No começo dos anos 2000, representou o Brasil em um congresso sobre latinidade em Santiago de Compostela, na Espanha.

Devido a um sério problema de catarata, José Laurentino ficou cego durante três anos. O poetinha, como também era conhecido, para os amigos mais chegados, suportou com muita paciência os momentos sem enxergar. Porém muitas vezes ficava angustiado, mas não desistiu da sua arte, ele continuou criando lindos versos.

O poeta relembra o momento tão difícil quando ficou sem a visão; “Foi de muita tristeza. Sentia falta da lua, das estrelas… Eu ia para a praia e não via o mar, não via as mulheres. Eu fiz até um soneto intitulado ‘Olhos Castanhos’ que diz: Eu não sei se lunar ou se solar, o eclipse que me apareceu. Eu só sei que o mundo escureceu, não avisto a terra, o céu e o mar. Só restou um bordão pra me apoiar e o ombro de um grande amigo meu que de graça a mim se ofereceu no momento em que eu mais precisar. Sinto inveja daquele vagalume que esnobe voeja no alto cume, tem luz própria e não dar luz a ninguém. Minha luz apagou-se o lampejo. Sinto pena de mim porque não vejo os dois olhos castanhos do meu bem.”

Após a cegueira José Laurentino produziu a Obra “Balada de um poeta cego”.

No ano de 2015, aos 72 anos, o poeta realizou uma cirurgia nos olhos, e para sua alegria voltou a enxergar.

José Laurentino é considerado um dos maiores expoentes da cultura nordestina. Faleceu no dia 15 de setembro de 2016, em Campina Grande, aos 73 anos, vítima de uma câncer no fígado. E deixou um legado importante para a literatura paraibana.

O poeta representa a essência do interior nordestino, a forma de viver o rústico, forte, telúrico e pândego ao mesmo tempo.

Coletânea Poética de Zé Laurentino:

Nesta obra estão reunidos mais de 200 poemas escritos durante a vida desse paraibano. “É um resumo de tudo que senti, de tudo que vivi, as saudades, as tristezas e as emoções ainda contidas dentro desse velho peito”, sintetizou o poeta. Nas 416 páginas da Coletânea estão os poemas mais conhecidos de Zé Laurentino, como Eu, a cama e Nobelina, O mal se paga como o bem, Mudança de Chico Bento, Esmola pra São José, Matuto no futebol, entre outros, publicados anteriormente nos seus nove livros.

 

 

Matuto:

 

 

Muito obrigado douto

Pelo conseio, o afeto,

Vô convida a mulé,

Meus fios tomém meus neto

Não vô mais sê imbeci

E breve eu grito ao Brasí

Não sô mais anarfabeto!

 

 

Vô hoje mermo p’ra iscola

Com o livro, caderno e giz

Pois estudano eu tomem

Ajudo ao meu país

Depois que eu aprende a lê

Aí eu posso dize

Sô um caboco feliz!!!

 

 

O Matuto e o Doutor

 

 

Douto não sou rico não

Mas vivo desapertado

Tenho uma casa de aipende

Vinte cabeça de gado

Uns quatro burro de caiga

E um cavalo manga laiga

Prumode eu andá montado.

 

 

Tenho uma roça bonita

De uveia tenho rebanho

Tenho um açude cheinho

Só mecê vendo o tamanho

Onde eu dou água a meu gado

E quando o calo ta danado

Serve mode eu toma banho.

 

 

Tenho um casa de menino

Uma mulé de verdade

Tenho um rádio falado

Que eu comprei na cidade

E uma viola de pinho

Onde toco bem cedinho

Mode espantá a sodade.

 

 

Um boi, um cutivador,

Vinte quadro de raiz,

E tá todinho cercado

A cerca fui eu quem fiz

Bode p’ru riba não sarta

Mais com tudo ainda farta

Uma coisa preu ser feliz.

 

 

Pode acreditá douto

Eu vivo sentindo fome

Mas não é fome de comida

Lá em casa a gente come

Tem dinheiro na gaveta

Eu sinto fome é das letra

Eu quero assiná meu nome.

 

 

P’ra eu não mandá lê carta

Pelos fí de seu Honoro

Pruquê as veis é segredo

E ele espaia o falatoro

Descubrindo os meu segredo

Pra eu não suja mais os dedo

Nos tinteiro dos cartoro.

 

 

P’ra não anda preguntando

Os carro pra donde vão

P’ra quando eu fô p’ra os banco

Não leva pricuração

Quero meu nome assina

Prumode eu também vota

Nos dia de eleição.

 

 

Me ensine lê seu douto

Eu peço pru caridade

Voimicê que é sabido

Que mora aqui na cidade

Me ensine a lê e conta

Prumode eu completa

A minha felicidade.

 

 

Doutor:

 

 

Caboclo eu não te ensino

Mas te aconselho, afinal

Quer aprender a ler?

Carta, bilhete, jornal?

Ler, escrever e contar

Pois vais te matricular

Num dos postos do Mobral.

 

 

Lá tu irás encontrar

Professora competente

E que no mundo dos livros

Vai clarear tua mente

Saber é algo profundo

Tu irás ver este mundo

Com uma visão diferente.

 

 

Vais caboclo nordestino

Da bravura és o perfil

A escola te espera

Com teu aspecto gentil

Ponha os livros nas mãos

Vais ajudar teus irmãos

A educar o BRASIL.

 

 

Fontes:

http://g1.globo.com/pb/paraiba/noticia/2016/09/poeta-ze-laurentino-morre-em-clinica-particular-de-campina-grande.html

http://www.renatodiniz.com/2015/12/entrevista-com-o-poeta-jose-laurentino.html

http://aartedomeupovo.blogspot.com.br/2010/03/poeta-ze-laurentino.html

http://www.blogdomarcial.com/2016/09/poeta-paraibano-morre-em-campina-grande.html

http://culturapopular2.blogspot.com.br/2010/03/ze-laurentino.html

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