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Data de publicação do verbete: 14/10/2016

Flávio Capitulino

Restaurador de obras de arte. "O Picasso brasileiro". Um inovador, e algumas de suas estratégias são muito perspicazes. Ficou mundialmente conhecido pela sua técnica de transposição.
Data de publicação: outubro 14, 2016

Naturalidade: Sousa – PB

Nascimento: 1965

Atividades artístico-culturais: Restaurador de obras de arte

Flávio Capitulino teve o primeiro contato com as grandes obras de arte aos seis anos de idade, quando conheceu as telas de Pablo Picasso. Filho de agricultores, ele nasceu na roça e foi criado em Campina Grande (PB), onde se dividia entre o trabalho de padeiro e freelancer como decorador. Em sua região, ficou conhecido como “o Picasso brasileiro”.

O sonho de Flávio era ser pintor em Paris. Para juntar dinheiro, “trabalhava tanto (…) que dormia duas horas por noite”, lembra o artista. Flávio conseguiu juntar uma quantia em dinheiro suficiente para comprar a passagem de ida para a França, somente a de ida. Um tio teve de financiar a de volta, obrigatória para conseguir o visto.

“Desembarquei em Paris aos 17 anos. Na bagagem levava 80 dólares e mais de 160 quilos de artesanato, que preparei para vender por lá, e acabei preso na alfândega (risos). Fui resgatado por meus amigos que logo me deram um banho de água fria: só poderia ficar na casa deles por uma semana”, conta Flávio. Sem falar francês, Capitulino foi para as ruas repetindo uma única pergunta: “Você fala português?”. Uma portuguesa foi a sua salvação. Indicou-lhe a Maison du Brasil, onde vivem os brasileiros que estudam em Paris. Ganhou abrigo e a sugestão de que os únicos empregos que conseguiria seriam os de faxineiro e de babá.

Cuidou de crianças até se deparar com uma mesa de laca chinesa, toda descascada, na casa de seus patrões. “Insisti tanto que me deixaram restaurar a mesa”, conta Flávio. Seus patrões ficaram tão encantados com o resultado, segundo Capitulino, que convidaram uma restauradora do Louvre para ver a mesa.

Nas palavras de Flávio Capitulino: “não sabia que ela, “a mesa”, valia uma fortuna. O trabalho encantou o proprietário, que me apresentou a uma amiga que trabalhava como restauradora no Louvre. Ela me indicou a seu chefe, Eduard Dechellet.”

“Dechellet procurava uma pessoa com experiência, e me recusou. Na hora de me despedir resolvi mandar um recado: disse a ele que um dia ainda precisaria de meus conselhos. Falei na frente de outros restauradores que riram da minha pretensão, aos 18 anos.” Dechellet, não resistiu à impetuosidade do jovem, e sentiu-se obrigado a ceder. “Pedi uma semana para mostrar o que sabia, tudo por intuição, e três meses depois eu era chefe do ateliê”, diz Capitulino.

O artista paraibano foi um inovador, e algumas de suas estratégias são muito perspicazes. Por exemplo, para limpar óleo sobre tela, ele descobriu uma técnica nova, que não usa solvente, produto que sempre afeta a imagem pintada. Em verdade, Flávio emprega breu moído para tirar sujeiras que se acumulam no verniz que era usado para proteger a pintura. Casca de ovo e cera de abelha também viraram material de restauro nas mãos de Capitulino.

Flávio, entretanto, ficou mundialmente conhecido pela sua técnica de transposição. É uma técnica que permite transferir somente a película de pintura de um quadro para uma outra base, o que é feito quando o suporte está muito estragado.

Leva-se dez anos para aprender esta técnica. Com três meses no ateliê eu já sabia aplicá-la. Até que surgiu uma oportunidade única: um quadro muito importante, do século XVII, que precisava ser transposto. Era só o que se comentava em Paris. Mas a técnica utilizada pelos maiores especialistas não deu certo. Mostrei a Dechellet que era capaz e fiz o teste em outro quadro. Ele concordou e deu certo. A partir daí meu nome estourou, tudo o que era difícil me era encaminhado”, conta o artista.

Depois de 30 anos desenvolvendo e aprimorando suas técnicas, Capitulino comenta que o apogeu de sua carreira ocorreu no final de 2014, quando Catherine Hutin-Blay, enteada de Picasso, convidou o paraibano a cuidar do acervo desse artista através do Picasso Administration, organização sediada em Paris que administra as heranças artísticas legadas por Picasso.

Hoje, ele tem seu próprio ateliê, onde restaurou a tela “Mulher com Rosa”, de Gauguin, avaliada em US$ 40 milhões de dólares. Dos mais de dez Renoir que recuperou, o mais valioso está no Museu D’Orsay, “A Dançarina”. “Vista de Ponte Neuf”, um Cézanne que pertence a uma galeria parisiense, também foi recuperada por Capitulino.

Em solo paraibano, Flávio foi responsável por promover, em agosto de 2001, no Tribunal de Justiça da Paraiba, uma amostra internacional que contava com obras de Picasso, Magritte, Ziem e outros. Na cidade de Sousa, restaurou uma capela de 1730, a Igreja Nossa Senhora do Rosário. Também já deu cursos em São Paulo, ensinando algumas técnicas que criou.

“Não aceito a ideia de que há uma receita para restaurar um quadro. Considero cada quadro como se fosse um paciente. E para cada caso há um medicamento. Sou uma espécie de médico da arte”.

Fontes:

http://www.carlosmagno.com.br/noticias/1132,e_paraibano_o_profissional_contratado_pela_familia_

de_pablo_picasso_para_restaurar_quadros_do_pintor_espanhol.html

http://www.jornaldaparaiba.com.br/cultura/noticia/166516_pintor-paraibano-restaura-obra-de-picasso-avaliada-em-289-milhoes-de-euros

http://gazetaonline.globo.com/_conteudo/2011/04/noticias/a_gazeta/dia_a_dia/832568-flavio-capitulino-restaurador.html

Uma resposta

  1. Flávio Capitulino é um ser de luz. Uma criatura predestinada ao sucesso.
    Que Deus continue abençoando e iluminando seus caminhos.
    Sou fã desse sábio.
    Moro em Barra do Cunhau na Pousada Vila da Barra

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