Naturalidade: Ingá do Bacamarte – PB
Nascimento: 23 de junho de 1880 / Falecimento: 7 de agosto de 1959
Atividades artístico-culturais: Poeta popular, escritor e editor
Folhetos de sua autoria: A Bela Adormecida no Bosque; A Garça Encantada; A Menina Perdida; A Moça Que Foi Enterrada Viva; A Paixão de Madalena; A Pérola Sagrada; A Sorte de uma Meretriz; História Da Moça Que Foi Enterrada Viva; História Da Princesa Eliza História de Joãozinho E Mariquinha; História de José do Egito; História de Natanael e Cecília; História de Roberto do Diabo; História do Valente Vilela; Mabel Ou Lágrimas De Mãe – Dois Volumes; O Balão do Destino e a Menina da Ilha (2 Volumes); O Estudante que se Vendeu ao Diabo; O Marco do Meio Mundo; O Namoro de um cego com uma Melindrosa da Atualidade; O Prisioneiro do Castelo da Rocha Negra; O Retirante; O Segredo da Princesa; Peleja de Antônio Machado com Manoel Gavião; Peleja de Bernardo Nogueira Com Preto Limão; Peleja de Laurindo Gato com Marcolino Cobra Verde; Peleja De Ventania Com Pedra Azul; Raquel e a Fera Encantada; Romance de José de Sousa Leão do Amazonas, Romeu e Julieta e Um Passeio no Escuro.
João Martins de Athayde nasceu em Cachoeira de Cebolas, povoado de Ingá do Bacamarte – PB. Não frequentou a escola, aprendeu a ler e escrever sozinho. Segundo seu próprio depoimento, aos oito anos, assistindo pela primeira vez a um desafio de Pedra Azul, um famoso cantador da região, começou a se interessar e fazer poesia popular.
Migrou para Recife, vizinho Estado de Pernambuco. Publicou o seu primeiro folheto em 1908, impresso na Tipografia Moderna. Um preto e um branco apurando qualidades. Embora seja da primeira geração dos poetas de cordel, não pertenceu ao grupo que frequentava a Popular Editora, de Francisco das Chagas Batista.
Em 1909, conseguiu montar uma pequena tipografia na Rua do Rangel, no bairro de São José, tornando-se um dos maiores editores de folhetos de cordel do País. Da sua oficina saíram, durante mais de quarenta anos, estórias fantásticas, recriações de estórias famosas, crítica de costumes, notícias de acontecimentos da época que divertiam, informavam e educavam o homem da cidade grande e das localidades mais distantes do Nordeste brasileiro.
João Martins de Athayde contribuiu grandemente para o desenvolvimento da arte e da comercialização do folheto popular no Recife. Foi o desbravador da indústria do folheto de cordel no País. Industrializando e comercializando sua produção e a de outros artistas, criou uma grande rede de atividades lucrativas no Nordeste, que se espalhou para outras regiões brasileiras, possibilitando a diversos poetas populares se dedicarem exclusivamente à poesia como atividade profissional.
Foi o responsável por profundas mudanças na edição de folhetos de cordel, no que se refere à relação entre os artistas e a tipografia, criando, inclusive, contratos de edição com o pagamento de direitos de propriedade intelectual, o uso de subtítulos e preâmbulos em prosa e a sujeição da criação poética ao espaço disponível, fixando-se o padrão dos folhetos pelo número de páginas em múltiplos de quatro. A apresentação gráfica dos folhetos deu-se devido às ideias de João Martins de Atayde.
Sua admiração por Leandro Gomes de Barros não era correspondida. Ao contrário: por duas vezes foi destratado (na resposta ao folheto Discussão de Leandro Gomes de Barros com João Athayde e na contestação que recebeu o seu poema O marco do meio mundo). Para Ruth Terra, as respostas de Leandro, apesar de serem contraditas, revelam o seu reconhecimento da importância de Athayde. Em 1918, Athayde escreveu A pranteada morte do grande poeta Leandro Gomes de Barros.
Em 1921, adquiriu os direitos de publicação de toda a obra de Leandro e iniciou a republicação, inicialmente, se indicando como editor e, posteriormente, retirando a informação da autoria de Leandro.
Foi aclamado na década de 1940 como o maior poeta popular do Nordeste.
João Martins de Athayde, no ano de 1949, após haver passado por um acidente vascular cerebral, se afastou da atividade de editor, vendeu a sua tipografia para José Bernardo da Silva, repassando-lhe os estoques e os direitos de edição sobre tudo o que publicou. O cordelista faleceu 10 anos depois em Limoeiro – PE, no ano de 1959.
Nota de esclarecimento:
Segundo o escritor pernambucano Mário Souto Maior, a data correta do nascimento de Athayde é 23 de junho de 1877. João Martins de Athayde, em entrevista concedida ao escritor Orígenes Lessa, no dia 9 de outubro de 1954, em Recife, faz confusão quanto à data de seu nascimento. Nessa entrevista, consta que o nome de sua mãe era Antônia Lacerda Athayde. O sobrenome Lima seria proveniente do marido.
Confira trechos de um dos folhetos de Athayde. “História de José do Egito”, em que se relata o nascimento do herói e uma de suas “presepadas”.
Jacob foi um patriarca
De uma vida exemplar
Teve Raquel como esposa
Uma jovem singular
Pai de José do Egito
De quem pretendo falar.
Foram pais de onze filhos
De uma só geração
Não quero falar de todos
Pra não fazer confusão
Falo em José do Egito
Benjamim e Simeão.
José era o mais moço
De Jacob era estimado
Devido essa simpatia
Pelos outros era odiado
Esse ódio aumentou tanto
Que o velho tinha cuidado.
José conhecendo isso
A todos ele temia
A intriga aumentou mais
Porque José disse um dia
Um crime que tinham feito
De cujo ninguém sabia.
Eles pensavam consigo
O que deviam fazer
Para dar fim a José
Sem o velho conhecer
Vivia o pobre menino
Sentenciado a morrer.
[…]
Fontes:
http://ex-vermelho1.blogspot.com.br/2011/07/as-proeza-de-joao-grilo-joao-martins-de.html
http://www.casaruibarbosa.gov.br/cordel/JoaoMartins/joaoMartinsdeAtaide_biografia.html#
http://www.memoriasdocordel.com.br/2013/04/grandes-nomes-do-cordel-2-joao-martins.html
http://cordelparaiba.blogspot.com/2011/04/um-folheto-de-joao-martins-de-athayde.html
Pesquisador: José Paulo Ribeiro, e-mail: zepaulocordel@gmail.com.