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Sinta A Liga: O protagonismo das mulheres em ascensão através do rap nordestino

Lillyane Rachel

“Eu tô com as mana, tô com as mina, tô com as mona, tô com as gay. Em terra de ‘machocrata’ quem se desconstrói é rei. Se o corpo é meu é minha lei. E nessas fitas, que a gente parte pra cima, diversidade que ensina, conceito que contamina e a rima que disciplina, colada com as outras mina, eu tô com as trans, tô com quem respeita a vida”. 

É o que diz um trecho da música ‘Campo Minado’ que descreve a resposta de mulheres em detrimento das violências impostas, historicamente, às minorias. 

[youtube:https://www.youtube.com/watch?v=M_Qfh7E-7qk&feature=youtu.be]

Banda Sinta a Liga. Foto: Divulgação

Nascida a partir de um coletivo feminista constituído por artistas e produtoras focadas em ascender a representatividade das mulheres paraibanas no hip hop, a banda Sinta A Liga ganha vida em 2016 e assume os palcos com intuito de despertar identificação nas minorias da sociedade, como também, contribuir para a desconstrução de paradigmas e preconceitos socialmente instaurados. 

Utilizando a homofonia, a nomenclatura do grupo faz alusão à peça do vestuário feminino na qual ‘A Liga’ remete à aliança e a união das mulheres, somada a fonia do ‘Cinta’, conjugada do verbo ‘sentir’, a fim de conduzir o público à emoção. 

A banda atualmente composta pelas rappers e ativistas culturais Kalyne Lima, Camila Rocha, Preta Langy e pelo DJ e produtor musical Guirraiz, enfrenta e retrata o desafio de resistir social, cultural e musicalmente. Além de transmitir o talento e o potencial das integrantes, as composições autorais celebram a luta social salientando o poder feminino, a liberdade e sororidade. 

De acordo com dados da Secretaria da Segurança e da Defesa Social da Paraíba, de janeiro a maio deste ano, 1855 inquéritos foram instaurados somando todos os registros feitos nas 14 delegacias distribuídas pelo estado. O número equivale a média de 12 inquéritos por dia de violência contra a mulher. Nesse período, 1988 medidas protetivas foram instauradas. 

 

 “As mulheres precisam ter os seus direitos garantidos, a gente sabe que o machismo não encontra barreiras e nem obstáculos para se estabelecer e isso, inclusive, também prejudica os homens. Através da nossa música, buscamos reforçar que temos o direito de ir e vir”, declara a rapper do grupo, Camila Rocha.

“A nossa representatividade precisa ser respeitada, o espaço que nos foi negado. Não queremos tirar nada de ninguém, apenas que as pessoas nos escutem porque é necessário ter o nosso espaço dentro da música paraibana e nordestina”, acrescentou Camila. 

Banda Sinta a Liga. Foto: Divulgação

De acordo com ela, além de militância e empoderamento feminino, as letras das canções refletem vivências humanas possibilitando que a sociedade, de forma geral, seja tocada. “Se as mulheres estão seguras, todas as pessoas são afetadas, isso se espalha e penetra todos os âmbitos sociais”, ressalta. Exemplo disso, o produtor do grupo, Guirraiz, compartilha a experiência pessoal de estar inserido nesse contexto. “Me posiciono no papel de quem mais precisa aprender com essas questões. Defendo o feminismo e busco praticar ações que buscam equidade entre homens e mulheres. Na parte artística, tento contribuir para que o discurso seja apresentado com verdade e com o máximo de qualidade técnica e musical. É importante fortalecer o desenvolvimento do discurso que propagamos”, explica. 

Com a capacidade de mesclar elementos culturais e reunir diferentes estilos musicais como o rap, dancehall, reggae e reggaeton, o protagonismo feminino ganha voz para a resistência em combate aos estereótipos e preconceitos em uma sociedade historicamente machista, xenófoba, racista e homofóbica. 

O segundo EP do grupo lançado em agosto de 2018, “L4mb3”, traz o foco em prol da quebra de tabus, da liberdade e autonomia sexual das mulheres e contra a imposição de que os desejos, orgasmos e sensações devem ser retraídos. “Passa a tua língua na minha pele, ela se arrepia enquanto a gente se diverte. Esse meu tesão sei que te aquece, se joga direito, nesse jogo não tem cheque”, afirma uma estrofe da canção. “Eu sou doma indomável”, reforça outro verso. 

[youtube:https://www.youtube.com/watch?v=6DVpr3A_TDc&feature=youtu.be]

“Temos vivência enquanto paraibanas e nordestinas, nada mais justo do que incorporar toda a herança de poesia que já corre na nossa veia. A música é um escape para o ser humano, salva e liberta a gente. Isso nos impulsiona para buscar uma transformação social”, ressalta a outra rapper da banda, Preta Langy.

 

 

 

 

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