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Data de publicação do verbete: 14/08/2022

 Invasão de Lampião a cidade de Uiraúna

A bravura de Uiraúna é lembrada até hoje, quando naquele tempo ainda se chamava Belém do Arrojado, e resistiu heroicamente contra o famoso “Rei do Cangaço” deixando seu nome na história.
Data de publicação: agosto 14, 2022

Nome do Evento: Invasão de Lampião a cidade de Uiraúna-PB

Data do ocorrido: 15 de maio de 1927

Ofensiva de Combatentes: 35 homens (sob comando de Lampião)

Número de Mortos: 1

Resistência a Invasão: 11 homens (sob comando de Nelson Leite)

História

No dia 15 de maio de 1927, Virgulino Ferreira da Silva, o famoso Lampião, liderando uma falange de aproximadamente 35 homens, preparava-se para tomar de assalto a vila de Belém do Arrojado, atual cidade de Uiraúna. Há dias Lampião e seus cangaceiros estavam sondando o pequeno vilarejo do sertão paraibano, estando ciente das condições do lugar, teve plena certeza de sucesso na empreitada que pretendia levar adiante. A vila ficava situada a divisa com o Rio Grande do Norte, nela haviam um número estimado de 130 casas e uma pequena igreja singela, tendo um comércio simples, quase inexistente.

Também havia constatado nenhuma presença de policiamento que pudesse dificultar o ataque do bando aos moradores locais do vilarejo, no entanto, em caso de uma eventual invasão por parte dos cangaceiros, a defesa seria feita somente pelo subdelegado Nelson Leite. Jornais da época relatavam incursões de cangaceiros na região do alto sertão da Paraíba, o Governo do Estado parecia ignorar tais eventos, se mantiveram negligentes ao risco de eminente ataque as cidades do interior, sem o envio de forças militares que pudessem assegurar proteção.

Ao início da tarde daquele dia 15 de maio, o sertanejo Leonardo Pinheiro notou a marcha dos cangaceiros se aproximando da vila, a cada passo que se aproximavam de Belém do Arrojado, Nelson Leite se apressava para organizar uma defesa. Estava ele disposto a sacrificar a própria vida para proteger a comunidade que lhe fora confiada o dever de servir, se sentindo abandonados pelas autoridades do Estado, os moradores incentivados por Nelson, começaram a se armar com que possuíam e passaram a formar uma resistência de apenas 11 homens, os cangaceiros além de estarem bem melhor armados eram numericamente superiores.

Os cangaceiros entraram na vila por volta das 17 horas da tarde, enquanto mulheres, idosos e crianças buscaram refúgio em sítios de familiares e amigos nas proximidades de Belém do Arrojado, os defensores da vila estavam posicionados em locais diferentes indicados por Nelson e aguardavam suas ordens para abrir fogo contra os invasores. Quando Lampião avistou a resistência armada no alto da igreja e a guarnição nas ruas laterais começou a troca de tiros, apesar dos poucos rifles e fuzis disponíveis, Nelson Leite tinha elaborado um bom plano do qual os cangaceiros não tinham previsto.

Entre os combatentes aliados de Nelson, estavam Luís Rodrigues, Moisés Lauriano, José Teotônio e Joaquim Estevão, esses estavam posicionados no alto da igreja, local mais alto da vila. Lampião começou incendiando a propriedade de João Gabriel, e em seguida tocou fogo nos currais e nas plantações de feijão e milho, o que serviu de alerta aos homens da vila. Sem obter sucesso na primeira tentativa de ocupação, Lampião muda a estratégia e passa a confundir a resistência, começa se ouvir os cangaceiros a imitar sons de animais ridicularizando-os e praguejar insultos e ameaças as famílias dos combatentes. Determinado a dominar a vila a qualquer custo, Lampião dá ordem ao bando que crie uma linha de fogo pela lateral, e assim tomar o controle pelo flanco oposto.

Porém, nada aparenta gerar resultado, a posição privilegiada da resistência continua a dificultar qualquer investida bem-sucedida do bando. Não querendo desistir, os cangaceiros se movimentam por uma rua lateral a igreja. Da torre principal um defensor atira, pois acreditava ter avistado uma silhueta de um cangaceiro se esgueirando ao tentar subir a igreja e atacar pela retaguarda, mas infelizmente acaba atingindo um de seus aliados, Antônio Correia, que não resiste ao fermento e morre pouco tempo depois, sendo a única baixa durante todo o combate.

Vendo a dificuldade de vencê-los, Lampião reconhece não conseguirá dominar a vila, pois a munição estava quase chegando ao fim, aos poucos os cangaceiros vão se retirando até que torne o silêncio absoluto. Antes das 19 horas já haviam ido embora de Belém do Arrojado, na manhã seguinte a comunidade festejou a vitória nas ruas e lamentou a única perda sofrida, o jovem Antônio Correia, tirando à perda da propriedade de João Gabriel e dos animais que se abrigavam nos currais e que foram mortos pelo incêndio, a vila não sofreu mais nenhum dano grave. A notícia de que uma humilde vila de agricultores tinha resistido bravamente a invasão dos cangaceiros foi transmitida por um telegrama para toda região, desde o ocorrido Lampião nunca mais voltou aquele lugar.

A bravura de Uiraúna é lembrada até hoje, quando naquele tempo ainda se chamava Belém do Arrojado, e resistiu heroicamente contra o famoso “Rei do Cangaço” deixando seu nome na história, quatro anos antes a cidade de Nazaré em Pernambuco obteve a mesma proeza pondo o bando de Lampião pra correr. A vitória de Uiraúna foi alcançada sem nenhum apoio externo, apenas com o heroísmo de seu povo e de um planejamento prévio que dificultou o sucesso da invasão, o dia em que o maioral do cangaço se viu derrotado, a prova de que a inteligência supera a força.

Jonas do Nascimento   

Fontes: 

http://cariricangaco.blogspot,com/2009/12/o-ataque-de-lampaio-uirauna-porsergio.html?m=1                                                                                                                                                                                                                                                                                                              https://www.trabalhosfeitos.com/ensaios/Trabalho-Do-Pin/759940.html