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Paixão pelo circo norteia carreira de artista plástico paraibano

Gabriel Botto

O período da infância é, sem dúvidas, a época onde os sonhos e desejos são desenhados na mente das pessoas. Aquela vontade de seguir uma carreira profissional, aquele sonho de se tornar aquilo que sempre quis, e toda a trajetória de vida, trilhada sob as perspectivas de um desejo pensado ainda nos primeiros passos de vida. Foi assim com o artista plástico Babá Santana, que desde a infância sonhava em ser um artista renomado, reconhecido pelo trabalho desempenhado e pelas obras concluídas.

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Logo no início da década de 1960, Manuel Iremar Santana era uma pessoa apaixonada. Vislumbrado com toda a positividade, carisma e amor que alguém pudesse emanar. Foi em Santa Luzia, no interior da Paraíba, onde aquele menino se descobriu. Foi indo ao circo que era armado ao lado de sua casa, que aquele jovem paraibano sentiria, pela primeira vez, uma “vontade louca” de jogar tudo para o ar, e embarcar em uma viagem que, até então, não sabia que duraria tanto tempo.

Babá tinha uma fissura pela energia contagiante dos palhaços que embalavam as noites de Santa Luzia, no circo que se instalava na cidade. Porém, aos 14 anos teve que se mudar para a Capital, João Pessoa, onde arranjou um emprego na única casa de festas da cidade que, segundo ele, ainda era muito pequena, sem o desenvolvimento ter chegado ainda.

“Com 14 anos, vim morar em João Pessoa, a cidade era uma espécie de província, era pequena, as ruas de barro. Quando cheguei, fui trabalhar na única casa de festas da cidade, que se chamava ‘Casa das Festas’, e eu já gostava muito dessas histórias de arte. Eu era apaixonado por circo, pois vizinho a minha casa,em Santa Luzia armavam um circo, e eu achava lindo, pois nunca ninguém chorava, ninguém reclama e sempre viajando”, disse o artista plástico.

A primeira inspiração de Babá para o artesanato veio de sua mãe, que era dona de casa e fazia bordados à mão. De acordo com o artista plástico, a sua vertente artística é hereditária, vindo do berço daquela que o acompanhou desde os primeiros passos. “Eu sou filho de um agricultor e de uma dona de casa, que bordava e costurava bonecas para as crianças da vizinhança, então é daí que veio minha paixão pelo artesanato”, completou.

Profissionalização

Já trabalhando na Casa das Festas, Babá Santana teve sua primeira oportunidade de realizar algum trabalho com o papel machê. Em um aniversário de criança que o tema era o safari da África, o artista plástico confeccionou vários animais em tamanho real usando o papel machê, desenvolvendo o cenário da festa, com os bonecos e pinturas que fazia. Porém, ainda não era aquilo que ele queria, visto que achava muito cansativo trabalhar no ramo das festas e decorações.

“Comecei a fazer festas infantis, cenários pintados, fazia as minhas primeiras peças de papel machê, que foi um safári africano, onde construí uma zebra, um elefante, tudo em tamanho natural. Mas era muito cansativo,muita gente e eu não gostava de lidar com a pressa que era realizar eventos daquela natureza”, enfatizou Babá Santana.

Artesanato

Foi a partir daí que o artista plástico conheceu uma dona de loja de decoração de João Pessoa, que estava planejando uma nova coleção para uma feira do ramo em São Paulo, e precisava de algumas peças para decorar algumas estantes. Foi aí que Babá teve a ideia de confeccionar bonecas com papel machê e cabaças de coco, que fizeram sucesso no evento, conseguindo vender mais de 600 exemplares.

“Nessa época eu trabalhava em uma loja de decoração, aí ela (a dona) me convidou para uma feira em São Paulo, a Gift, aí fiz fiz umas bonecas de papel machê com cabaça e vendi todas elas,mais de 600 bonecas para uma única pessoa, que amou o meu trabalho, então foi aí que vi que aquilo poderia me proporcionar mais bons capítulos em minha história”, destacou.

No início dos anos 2000, Babá Santa conheceu o Programa de Artesanato da Paraíba (PAP),onde começou a trabalhar, mas como auxiliar de decoração e eventos, até que um dia foi convidado para outra feira, desta vez em Pernambuco, a ‘Feneart’, e, além de ir como funcionário do PAP, ele levou alguns exemplares de seu atelier para exposição.

Porém, ele não foi bem sucedido como funcionário do Programa, encerrando um ciclo,mas abrindo a porta que daria todo sucesso às suas confecções.

“Me passaram a perna, fiquei para trás, teve uma ‘escrotagem’ muito grande, me escantearam. Aí então conheci o Sebrae, que fez umas feiras de turismo rural, e eu fiz uma coleção de bonecos, foi o grande “boom” de minha carreira, o Sebrae é uma mãe, um pai, um padrinho, é tudo para mim, pois foi um marco na minha vida. A partir dessa feira eu me tornei o Babá Santana de hoje”, lembrou o artista plástico.

Sucesso

A história de sucesso perdura até a atualidade. Hoje em dia,Babá Santana realiza oficinas de papel machê em todo o Brasil, desenvolvendo parcerias com estilistas famosos, como o caso do mineiro Ronaldo Fraga,com quem conquistou, inclusive, o reconhecimento da Unesco, por uma coleção desenvolvida em João Pessoa.

“Minha vida hoje é maravilhosa, hoje meu foco são as oficinas. Dou oficinas em Brasília, aqui no interior do estado, em Belo Horizonte, São Paulo, Rio de Janeiro, enfim, pelo Brasil a fora. A oficina de papietagem é onde eu consigo passar aquilo que eu construí com minhas próprias mãos para outras pessoas”, disse.

Com a parceria com o estilista Ronaldo Fraga, Babá Santana participou da criação e produção da coleção de moda das Sereias da Penha, que produzem biojoias a partir da escama de peixe, pescados pelos companheiros na praia da Penha, em João Pessoa. O projeto deu à Capital, o reconhecimento da Unescco, com o título de Cidade Criativa da entidade.

“Tenho uma parceria com Ronaldo Fraga, em Belo Horizonte, ele é um estilista premiado, então é um marco em minha vida, em um dos projetos, que foi o Sereias da Penha, fomos reconhecidos pela Unesco”, finalizou.

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